(*) Eduardo Della Manna
A Prefeitura de São Paulo anunciou, em maio, o resultado de licitação para contratar empresa responsável por elaborar projeto urbanístico e de reurbanização da área conhecida como Nova Luz. O consórcio vencedor terá de recuperar um território submetido, por décadas, a um intenso processo de obsolescência física, funcional e econômica comprovado pelos indicadores de consolidação de novas e potentes centralidades (Av. Faria Lima e imediações da Marginal Pinheiros e da Av. Luís Carlos Berrini); de estrutura fundiária complexa (escrituras condominiais, espólios, propriedades imobiliárias pulverizadas e falta de terrenos vazios para a construção de novos edifícios empresariais); de zoneamento restritivo que limita as possibilidades de verticalização; de inadequação do padrão das edificações existentes (edifícios antigos e inadaptáveis aos requisitos técnicos atuais); de degeneração ambiental e paisagística; de proliferação de moradias precárias em edifícios deteriorados – cenário ideal para a violência e a miséria.
Recomendável que o projeto urbanístico adote como método de abordagem o conceito de reabilitação ou requalificação urbana, originado como reação aos ambientes excludentes criados pelos paradigmas de renovação urbana – com sua metodologia do “arrasa-quarteirão” -, e que tem o objetivo de intervir sem necessariamente destruir, valorizando o patrimônio cultural existente e sua população moradora. Desse modo, a sustentabilidade das intervenções fica garantida pelo incentivo à participação de segmentos organizados da sociedade civil. Reabilitação urbana é uma estratégia para requalificar a cidade, por meio de intervenções que valorizem as potencialidades socioeconômicas e funcionais e melhorem as condições de vida das populações locais.
Uma análise preliminar permite identificar possibilidades que transformem em arranjos produtivos locais polos geradores de inovação e requalificação, articulados com áreas comerciais vizinhas e capazes de estimular a geração de emprego e renda: [1] Usina da comunicação: polo de montagem e difusão de hardware de baixo custo; desenvolvimento e comercialização de software; criação de incubadora de microempresas para jovens; sinergia com a área próxima à Rua Santa Ifigênia, especializada no comércio de material eletroeletrônico; envolvimento de pesquisadores e artistas que trabalham com inovação tecnológica; reciclagem de equipamentos eletrônicos; alta tecnologia a baixo custo; compartilhamento livre em oposição à pirataria; acordos de cooperação com grupos nacionais e internacionais de pesquisas; [2] Usina da construção: laboratório de arquitetura popular; uso de materiais e técnicas construtivas alternativas e sustentáveis; sinergia com várias áreas de comércio de materiais de construção e ferramentas; desenvolvimento de equipamentos e instrumentos de trabalho a partir das necessidades e práticas da população, como carrinhos para catadores de papel; cooperação com escolas de arquitetura e design; [3] Usina da moda: polo de criação e venda de vestuário para jovens estilistas; sinergia com o Bom Retiro; criação de ateliers de produção, áreas de desfiles e lojas; cooperação com escolas de design, SP Fashion Week.
Richard Florida, professor da Carnegie Mellon University e autor do livro The Rise of the Creative Class, diz que a vida econômica se desenvolve por meio da inovação e que ambientes com concentração de pessoas criativas crescem mais rapidamente. O segredo estaria no desenvolvimento de tecnologia, talento e tolerância.
Certamente, novas estratégias de desenvolvimento socioeconômico, geradas do diálogo entre sociedade civil, poder público e iniciativa privada, transformarão a realidade local. Trata-se, apenas, de construirmos novos paradigmas de uso que garantam a dinamização dos ativos existentes, resgatando o capital simbólico e a capacidade de irradiação de novas tecnologias.
Eduardo Della Manna, 52, arquiteto e urbanista, é diretor de Assuntos Legislativos e de Urbanismo Metropolitano do Secovi-SP, consultor em mercado imobiliário do NUTAU –Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e membro do Comitê de Mudança do Clima e Ecoeconomia e do Conselho do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Município de São Paulo
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